sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Confianças de uma Democracia Representativa



Hoje cheguei por volta das oito da manhã à escola para ter aula de física e química, no entanto, como não tinha nada para fazer, pus-me a andar em elípticas à frente dos laboratórios e, claro está, a refletir sobre a democracia. Após uma excelente rodada de voltas cheguei a uma conclusão:

Para uma democracia representativa ser saudável é necessário que se estabeleça, entre cidadãos e governantes, dois tipos de confiança: ideológica e humana; onde a primeira deve ser questionável e a segunda deve ser inabalável.

Após a nomeação do governo segundo as normas em vigor, os governantes seguem a sua linha de ação atendendo ao plano de governo apresentado em eleições, desta forma existe um conjunto de propostas do conhecimento dos cidadãos que deverão ser aplicadas. Contudo, qualquer cidadão pode duvidar dos meios, e mesmo dos fins, que o governo pretende, isto uma vez que em democracia um valor fundamental é a pluralidade. Assim sendo existe a construção de uma confiança, ou desconfiança, por parte do cidadão em relação à ação do governante, tendo em conta que esta está dependente de uma visão ideológica, portanto, subjetiva. Daqui se infere a confiança ideológica.

Em relação ao governante enquanto indivíduo, o cidadão pode considerá-lo não apto a realizar o seu trabalho devidamente, no entanto não deve considerar que o detentor do poder executivo não possui sentido de responsabilidade em relação à segurança dos cidadãos. É de extrema importância partir do princípio de que qualquer governante possui por fim último a salvaguarda dos interesses dos cidadãos (de acordo com a sua visão). Caso contrário seria mais adequado viver-se em anarquia, de forma a cada indivíduo governar-se a si próprio, dada a desconfiança no outro, evitando-se, assim, que alguém possua a responsabilidade de zelar pela segurança do todo. Considerar que o governante, por muito pouco ética que seja a sua conduta, possui por fim prejudicar os cidadãos constitui um clima insustentável para a atuação ideológica do governo (cujo programa foi democraticamente eleito). Logo, é necessário existir a confiança humana.

Apesar desta necessidade de estabilidade, o paradoxo da tolerância mantém-se, não devendo a sociedade ser tolerante com os intolerantes sob pena de perder a tolerância. Na mesma linha de pensamento, a falta de ética dos governantes é reprovável. Pura e simplesmente não é comportável/sustentável afirmar que alguém no poder executivo só defende os cidadãos quando se concorda ideologicamente com o mesmo, sendo esta uma ação de enorme perversidade por promover uma ofensiva à pluralidade, valor base da democracia.

Que se note que o fim em contexto ideológico difere do fim em contexto pessoal, sendo o primeiro suscetível a ser alvo de objeções, enquanto que o segundo se reporta à manutenção da segurança da população.

Podemos ser críticos da ação do governo, mas não devemos duvidar das suas boas intenções sob pena de se violar a construção de uma sociedade fraterna.

Quando dei por mim estava uma mancha de pegadas, marcadas a água, no chão.

Pedro Gaspar Amaral



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