Hoje cheguei por volta das oito da manhã
à escola para ter aula de física e química, no entanto, como não tinha nada
para fazer, pus-me a andar em elípticas à frente dos laboratórios e, claro
está, a refletir sobre a democracia. Após uma excelente rodada de voltas
cheguei a uma conclusão:
Para uma democracia representativa ser
saudável é necessário que se estabeleça, entre cidadãos e governantes, dois
tipos de confiança: ideológica e humana; onde a primeira deve ser questionável
e a segunda deve ser inabalável.
Após a nomeação do governo segundo as
normas em vigor, os governantes seguem a sua linha de ação atendendo ao plano
de governo apresentado em eleições, desta forma existe um conjunto de propostas
do conhecimento dos cidadãos que deverão ser aplicadas. Contudo, qualquer
cidadão pode duvidar dos meios, e mesmo dos fins, que o governo pretende, isto
uma vez que em democracia um valor fundamental é a pluralidade. Assim sendo
existe a construção de uma confiança, ou desconfiança, por parte do cidadão em
relação à ação do governante, tendo em conta que esta está dependente de uma
visão ideológica, portanto, subjetiva. Daqui se infere a confiança ideológica.
Em relação ao governante enquanto
indivíduo, o cidadão pode considerá-lo não apto a realizar o seu trabalho
devidamente, no entanto não deve considerar que o detentor do poder executivo
não possui sentido de responsabilidade em relação à segurança dos cidadãos. É
de extrema importância partir do princípio de que qualquer governante possui
por fim último a salvaguarda dos interesses dos cidadãos (de acordo com a sua
visão). Caso contrário seria mais adequado viver-se em anarquia, de forma a
cada indivíduo governar-se a si próprio, dada a desconfiança no outro,
evitando-se, assim, que alguém possua a responsabilidade de zelar pela
segurança do todo. Considerar que o governante, por muito pouco ética que seja
a sua conduta, possui por fim prejudicar os cidadãos constitui um clima
insustentável para a atuação ideológica do governo (cujo programa foi democraticamente
eleito). Logo, é necessário existir a confiança humana.
Apesar desta necessidade de
estabilidade, o paradoxo da tolerância mantém-se, não devendo a sociedade ser
tolerante com os intolerantes sob pena de perder a tolerância. Na mesma linha
de pensamento, a falta de ética dos governantes é reprovável. Pura e
simplesmente não é comportável/sustentável afirmar que alguém no poder
executivo só defende os cidadãos quando se concorda ideologicamente com o
mesmo, sendo esta uma ação de enorme perversidade por promover uma ofensiva à
pluralidade, valor base da democracia.
Que se note que o fim em contexto
ideológico difere do fim em contexto pessoal, sendo o primeiro suscetível a ser
alvo de objeções, enquanto que o segundo se reporta à manutenção da segurança
da população.
Podemos ser críticos da ação do governo,
mas não devemos duvidar das suas boas intenções sob pena de se violar a
construção de uma sociedade fraterna.
Quando dei por mim estava uma mancha de
pegadas, marcadas a água, no chão.
Pedro Gaspar Amaral